26 julho 2008

Rêve (Sonho)


As vezes, acordo tão bem, tão tranquila, e acho que é um sonho. Quando abro os olhos, me levanto, começo a minha rotina é que me dou conta que não. Não é um sonho. Estou mesmo feliz, tranquila, bem. E como estou bem! :)


Não, não é por causa do amor. Mas por causa de mim. Porque eu deixei que o mundo girasse e girasse, e as coisas acontecessem, alegrias, tristezas, sofrimentos e risadas, até que o amor chegasse. Eu estava aberta ao amor, e isso foi o mais importante. Ele não chegou e pronto, ele foi me conquistando. Não o homem Philippe, mas o sentimento que o homem tinha.

Pouco a pouco, foi sendo construído, em mim e nele, algo bom, algo seguro, algo real. E um dia, quando nos demos conta, já estávamos dominados, preenchidos com esse sentimento, sem poder negar que a presença do outro fazia falta. Aí, passamos a nos ver com mais frequência, conversar ainda mais, passera, rir e até beijar. É assim que começa um namoro, mas não é assim que começa o gostar.


Esse, vem de mais longe, de muitos meses e dias antes, quando começamos a nos falar, a nos ver e nos observar. O sentimento é uma junção de fatores, um conjunto de fatos banais e importantes, conjugados aos valores pessoais, inseridos num momento social. Na verdade, apaixonar-se é muito complexo! Diria até, um fato antropológico de suma importância! :)))

Pois bem, mais uma data a se comemorar! Tchin, tchin!

E eu terminei meu romance russo. Que maravilha... recomendo L’accompagnatrice (a acompanhante) - Nina Berberova.

14 julho 2008

PARIS!



Quantos sonhos lindos em Paris... quantos filmes... quantas histórias... quanta vida nessa cidade linda! E pensar que meses atrás, nessa mesma data, eu nem sonhava vir para cá! Como a vida nos prega peças... como desconhecemos os desígnos dEle. Alguns meses se passaram desde a minha chegada, muitos fatos, mudanças, adaptações e surpresas num período tão curto. Isso é que nos anima, a mudança, o imprevisível, o porvir.

Nesse meio tempo, hábitos foram adquiridos, outros perdidos. Deixei de comer fruta no café da manhã, passei a tomar chá todos os dias (mesmo no calor), escuto muita música no rádio, não vejo mais televisão, leio kilômetros de páginas por dia, caminho pelo menos uma hora por dia, pego o metrô na mesma hora para ir ao mesmo local TODOS OS DIAS.
E nesse trajeto, de 12 estações, vejo sempre as mesmas pessoas, que descem nas mesmas estações, com suas mesmas pastas e sorrisos ausentes. Com o tempo, somos capazes de saber o tipo de música que cada um prefere ouvir no seu "baladeur mp3" de bolso. Até observamos que um livro foi terminado, dando lugar a um novo título ou uma apostila do curso/trabalho. Percebemos humores, decepções, preocupações, alegrias.
As pessoas que pegam o metrô com você passam a fazer parte da sua vida...Tem aquela senhora que vem sempre pedir uma ajuda para pagar o aluguel, que sobe em Sèvres-Babylone (que está fechada para reforma), tem o doidinho todo de preto que ouve rock pauleira em LaMottePiquet, tem o casalzinho de adolescentes que mora junto em Pasteur, tem a professora universitária que usa sempre o mesmo pullover vinho e saia cinza (será uma farda?) e tem eu, a brasileirinha sorridente que desce em Cluny.
Agora, lembrei do chinês paralítico que faz curso de pintura aqui do lado. Vejo-o quando vou buscar as crianças na escola. Ele faltou a aula ontem. Era sobre uma técnica de aquarela. O que terá havido??

08 julho 2008

Observando...


Resolvi aparecer mais tarde por aqui.

Dia de observação do mundo, de suas várias formas, interpretações, cores. Saí em busca de uma saia. Coisa de fim de ano, isso, de sair às vésperas de uma festa para comprar aquele artigo que não lhe fez a menor falta o ano inteiro. E claro, de um par de sandálias que combinem perfeitamente com o conjunto final. Coisas de mulher...
Ao entrar na primeira loja, um susto imenso! Ao cruzar a entrada, me vi no meio de uma formigueiro! Gente saindo e entrando por todos os lados, roupas que iam de um lado para outro, saltavam, corriam, voavam! Uma onda de verdes, amarelos, azuis, branco, preto, roxo. Parece que aquela tradição de passar o ano vestido de branco, mudou. As pessoas hoje vestem tudo, todas as cores, tamanhos e modelos. E a loja estava louca! Vendedoras estressadas, mulheres que gritavam umas com as outras por uma blusa de alças de paetês! Incrível, mas em pleno tempo de Natal, as pessoas brigavam por uma blusa! Salvei-me de lá enquanto pude.
Se numa loja "elitizada", os bons modos foram esquecidos, imaginei que descendo o preço dos artigos, a coisa piorasse. Mas, percebi que o humor das pessoas muda conforma o poder aquisitivo. Constatações de um shopping center que reúne menores, médios e grandes bolsos. Acabei indo parar num armarinho, de esquina, coisa simples e lá encontrei minha "arca perdida". Exatamente como desejei. E as sandálias? Claro que achei também. Voltei para casa feliz com minhas duas sacolas e poucos gastos.
No caminho para casa, vi a lua.
E o que ela me disse? Que esse ano que vem caminhando, devagarinho, ao doce compasso desse verão, vai ser MA RA VI LHO SO!

07 julho 2008

Estranha essa vida

Estranha essa vida.

Os dias pessam e são tantos os problemas, as coisas a serem resolvidas, as dificuldades, que as vezes não nos damos conta de tudo que aconteceu num período. Sempre achamos que não aconteceu nada, que nada fizemos, que nada mudou.


Isso não é verdade. Mudamos todos os dias, melhoramos e pioramos a cada dia, a cada emoção, tristeza, pensamento. Amadurecemos, nos fragilizamos, choramos, buscamos, rezamos. Se pararmos para pensar em todas sensações de um único dia, veremos a multiplicidade de caras, medos, risos e ansiedades que nos consomem.


Os dias passam, e com eles, muitas dores se vão... feridas curadas, cicatrizes que até se apagaram. Renovamo-nos dia a dia, respirando novos ares, vendo novas paisagens, ou até as mesmas de antes, mas com cores novas aos nossos olhos renovados. Outro dia, outra vida.

05 julho 2008

Me podam, mas eu volto!


"Me cortam, me podam e eu ressurjo inteira".
Tem sido essa a frase que permeia meus pensamentos ultimamente.Tenho andado num período de reavaliação, de reconstrução e muita, muita reflexão da alma.
Mudanças que vem a galopes na minha vida, sensações e sentimentos múltiplos me invadem e tenho que coordená-los dentro de mim antes que o caos se instale.Problemas? Não. Aspecto negativo? Não. Até diria positivo, mas precisa de organização para surtir algum efeito na minha vida. As dificuldades são inevitáveis, a paciência vai se esgotando, sendo consumida pouco a pouco e bastante, numa roda-viva de ações, gastos, preocupações e desejos. Tudo isso junto perturba a mente, os dias, os encontros. Ou até promove os desencontros. Estava precisando mudar, sair do ritmo de antes, alterar. E agora, surgiu a oportunidade.
Tudo começa de dentro para fora, mas a coisa mais evidente para mostrar a fase em que estamos é o corpo, o rosto, os olhos, o cabelo. E por isso, o corte radical. Eliminei cores que estavam marcadas, fios de cabelo que carregavam épocas outras, mudei de rosto, de cara, de jeito, até. Me acho mais leve. Leve na alma, leve no cabelo, leve na vida. E mesmo me cortando, me podando, eu ressurjo inteirinha depois.E deixemos a vida seguir seu passo...
Mudar....

Carta ao Vicente

Olá Vicente,

Mesmo longe, penso em você.

Inclusive, ontem, durante minha caminhada matinal. Estava no parque de Bechwood, no lado leste de Ottawa, perto do cemitério onde estão enterrados os grandes homens da pátria canadense, quand ouvi os tiros de fuzil. Eram as “honras” militares aos quatro soldados mortos no Afeganistão nos últimos dias.

Meu primeiro pensamento foi em relação à dor das famílias desses bravos homens, que, poucos dias atrás, tinham recebido a visita de um militar de patente superior para informar o falecimento, friamente, trazendo a bandeira nacional e algum pertence militar. Ouvi um apito de trem. E lá vinha o trem, passando ao pôr-do-sol, em frente a sua casa, bem devagar. Lembre-me, então, daquele dia triste.

Sabe, aquele deveria ter sido o meu primeiro velório. Um dia de sol bonito, cedo da manhã, eu o vi, de longe, deitado naquele caixão imenso de madeira esculpida, quieto e calado, em meio aos cravos brancos. Eu sequer me aproximei. Queria guardar a imagem alegre de quando ainda vivia entre nós.

Fazia calor, e sentei-me em um dos bancos da entrada da central de velórios. Dividi o espaço com um casal que chorava, a moça entre os braços do rapaz que tinha os olhos marejados. De lá, do meu canto protegido, percebia quase todos que me rodeavam, que não se entreolhavam, apenas permaneciam de cabeça baixa, mão nos olhos.

A sala parecia mínima, à medida que as pessoas entravam, e o número de visitantes me espantava. Homens que fumavam seus cigarros discutiam política e o futuro do país, e as mulheres se consolavam. Foi difícil permanecer ali, inerte, e não me incomodar com a dor coletiva.

Por fim, decidi a vê-lo, vencer os passos, enfrentar a dor, e acho que foi a melhor decisão. Será uma imagem inesquecível. Seus olhos verdes fixados em mim, sua mão calejada do trabalho de uma vida, passava por sobre minha cabeça. Ouvi, mais uma vez, a história de Dom Ratim. Sorri. Foi assim que te disse adeus, vovô.

Com muito amor,
Sua neta Andrea.

17 minutos


Qual foto do meu arsenal poderia representar melhor o momento pelo qual estou passando? Uma praia, uma árvore, um caminho sinuoso? Escolhi essa por dois grandes motivos.

Primeiro, representa a minha terra amada, João Pessoa (Paraíba) - cidade pequena, mas super agradável - onde podemos apreciar um pôr -do-sol na Praia (fluvial) do Jacaré com o "Bolero de Ravel" sendo maravilhosamente tocado por Jurandy do Sax (com mais de mil repetições e título no Guiness Book).

Segundo, porque representa o tempo da espera. Sabem quanto tempo dura a execução do Bolero? 17 minutos. Durante esse tempo, que escutamos a música e observamos o sol descendo no horizonte, percebemos todas as mudanças de cores do céu, o clima de crepúsculo que se aproxima, até um certo tom de depressão pelo fim do dia e a caída da noite. Temos a impressão que o sol apenas obedece o seu curso diário rapidamente, mas se nos determos um pouco ao tempo, à quantidade de tempo necessária, perceberemos o quanto esse curso é "demorado". 17 minutos! Se tivéssemos que esperar isso tudo a nada ver, fazer, escutar, seria uma espera interminável! Cansativa, angustiante, chata.

É exatamente essa a minha impressão até hoje. Essa espera toda estava me cansando. Causando uma ansiedade demasiada, uma tristeza além da conta, uma sensação de impotência. E não poderia me deprimir por causa de algo à toa... não é? Decidi reagir e voltar a minha vida normal. Será que se consegue viver "normalmente" a espera de algo que mudará o curso da sua vida? Tentarei..Resolvi preencher esses "17 minutos" de espera com algo que me alegre, que me anime, que me coloque pra frente e não me arraste para as profundezas da tristeza sem fim antes da hora.
Ação! Palavra da hora.

Apaixonar-se


“Tô apaixonado” – foi a frase que ele disse para iniciar o telefonema das 23h. “Tô me sentindo um leso, não me concentro em nada, estou todo empolgado, feito um bobão”. Eu quase morro de rir com a cena. E pensar que ele me dizia que isso não poderia acontecer com ele nessa idade. Acho que ele pensava ser imune. :)))) Coitadinho, não tomou a vacina, a doença pegou!
Engraçada essaa vida... Esse mesmo do telefonema me dizia, nas nossas longas conversas sobre a vida e seus melindres, que isso não acontece muitas vezes na vida, que já tinha lhe acontecido, não ia mais se repetir. Dizia, que os casais eram peças bem reunidas que pensavam em direções diferentes, até que um dia, se davam conta que buscavam a mesma coisa: amar quietinho.
E tem coisa melhor do que encontrar a “tal pessoa” que vai colorir nossos pensamentos? Sim, porque não sei se vocês notam, mas a gente tem uma visão monocramática até que se apaixone. A gente até pensa que vê tudo colorido, mas é um engano. Cores mesmo, a gente só vê quando o bichinho da paixão nos pega. Aí, o sol brilha muito, as cores se distiguem e a paisagem se torna ainda mais bela.
Essa “tal” que vem parecendo um arco-íris, por acaso (ou não), se encaixa perfeitamente no nosso abraço, adora dormir juntinho, nos manda mensagens nas horas mais improváveis do dia só para dizer que lembrou da gente por um vento que passou diferente. Essa critura, sem nem notar, “atrapalha” nossas aulas, trabalho, estudo. Nos tira, de uma forma maravilhosa, toda a concentração. E ficamos felizes com isso, o que é melhor. ;))
Apaixonar-se, é engraçado...

Que o bichinho da paixão pique vocês!

03 julho 2008

Família

Um dos meus quatro pilares de sustentação (os outros três são: meus amores, meu trabalho, meus amigos) e, certamente, o mais importante deles, minha família é minha base, meu exemplo, meu ponto de partida e de chegada. Qualquer desafio que a vida me propõe, é nela que busco a coragem, a força e o apoio. E uma vez conquistado, é para ela que retorno, para a comemoração.

E família é algo que carregamos para todo lado. Ela está em nós, intrínseca, representada na educação, na formação, nos valores, nas características físicas e psicológicas. Somos o resultado do que recebemos de nossos pais, misturados ao que fazemos com o que o mundo nos oferece, baseados nos valores apre(e)ndidos em casa. E como esses valores são importantes! Determinam tanta coisa...

Família também é aquela que adotamos. Aquela do grande amigo quase irmão, das amigonas-irmãs, de quem amamos. E não é porque relacionamentos se acabam que acabam os sentimentos e o respeito pela família que também foi um pouco nossa. Poder partilhar das alegrias, decepções e dores é um privilégio que muitos não valorizam. Alguns até rejeitam a sorte. Muitos não se dão conta da maravilha que é ter uma família, com quem contar, desabafar, comemorar. Não é fácil passar pelas dificuldades da vida, mas juntos, pode-se muito!

Pena eu não poder compartilhar das comemorações ao lado da família, aniversários, conquistas, nascimentos e não chorar com eles a perda dos nossos. Mas, acredito e desenvolvo a teoria, de que “estar em família” não é apenas estar presencialmente com eles, pais, irmãos, primos e tios, é também acompanhar de longe, oferecer o ombro a milhares de kilômetros, enviar um sorriso amarelo pela camêra do computador, escrever uma carta. Não é porque não se está “lá” que não se está com eles. Um pensamento, um gesto, uma oração vence montanhas, distância e tempo.

Por isso, não esqueçam das conquistas que fizeram, das maravilhas que a vida proporciona, dos valores apreendidos, e, para aqueles que podem, se voltem para a família bonita que ergueu tudo isso, a base, a origem de todos nós.

02 julho 2008

Os campos santos

Dia nublado de um inverno nada rigoroso no Hemisfério Norte. Uma longa caminhada sobre vinte centímetros de neve me separava do ponto de ônibus. Um vento frio e congelante me tomava por dentro. Uma tristeza, um pesar.

Acordada de uma noite não-dormida, fui ao trabalho. E em todo o trajeto, desenhava na neve do lado de fora do ônibus, imagens de uma vida. Vi crianças correndo, a celebração de um casamento, barcos ao largo de um cais, um belo calçadão na praia, luzes quase apagadas numa casa na Avenida Beira-Mar.

Deixe-me ir com meus pensamentos, sempre de olho no percurso que o ônibus tomava, e findei nas lembranças de uma infância perdida, dias dealegria no jardim da casa da tia do coração. Tarde de férias no mês de julho, calor, sorvete que passava na porta, brincadeiras de roda e bola com as vizinhas da rua. Lembrei-me dos dias em que íamos à praia, pegar sol e brincar no mar, construir castelinhos e piscinas na areia molhada da Praia do Futuro.

E lá, encontrava aquele senhor barbudo, algumas vezes, por trás de um balcão, a dar ordens a um grupo de empregados, observar o andamento dos pedidos, controlar entrada e saída de produtos. Passávamos o dia por lá, brincando e rindo com suas graças, comíamos peixe na brasa, bebíamos refrigerante à vontade. Na volta para casa, o cansaço do mar, o banzo da falta, o respeito, um semestre sem vê-lo.

Temos tempo e meios de viver todas as emoções, de criar e ver crescer cada coisa, cada lugar. Mas, sabemos fazê-lo? Ele era um homem sério, de rosto terno, que vivia na praia. No mar e do mar, viveu seus dias, e passou para nós, o amor por ele. De uns tempos para cá, andava com o apoio de uma bengala para preservar a integridade e lá do alto, enxergava, com seus olhos azuis, tudo o que se passava. Abaixo disso, tinha os olhos fixos nas folhas, cascas e insetos, nenhum mínimo detalhe lhe escapava. Acima, seus finos cabelos brancos impunham ainda mais respeito. Subia e andava devagar, mas avançava.

Já ontem, meu avô não ouvia mais tão bem. O tempo estava passando e os dias diminuindo. Já não se via mais do mesmo jeito, já não se ouvia. Começava-se a viver o que se viveu. Era um aproximar-se mais e mais do centro do redemoinho que engole a todos nós. E quando o ônibus se aproximava do terminal, mesmo egoísta e triste, entendi, que não seria por mim, mas sim por ele, que eu precisava deixá-lo ir, descer do ônibus. Era chegada a hora, para ele, de ir conhecer a “geologia dos campos-santos”.