27 agosto 2006

Se eu soubesse que hoje seria meu último dia sobre a Terra, como eu o passaria?

A questão não é saber o que eu faria, porque isso inclui aquelas coisas que passamos a vida pensando em fazer, tipo saltar de pára-quedas, ir ao Alaska, falar, em questão de minutos, com todas as pessoas com quem não falamos (por vontade própria, até) a anos, ou mesmo, rever todos os lugares lindos que visitamos uma vez e nunca mais. Claro, a oportunidade para realizá-las só surge nesses questionamentos bobos de fim de festa ou de fim de noite.

Aqui, a questão é saber como passar o último dia de sua vida na Terra. Isso significa como ocupar as 24 horas que preenchem esse dia, o seu último. Passado o choque inicial, o de se saber quase um morto, ou desaparecido, afinal, existe vida fora da Terra, começo a listar aquelas coisas impossíveis ditas no páragrafo anterior. Já com uns 5 itens na lista, percebo que não se trata de nada disso. Não estamos falando em tomar o último sorvete de macadâmia da vida, nem andar pela última vez na areia da praia. Não se trata de fazer cerimônias de despedida ou recriar momentos para guardar como lembrança. Trata-se de criar um dia na minha vida, que será o meu último.

Quando acordamos, todos os dias, já temos uma agenda cheia de compromissos, horários, pagamentos, gastos, telefonemas por dar e emails a enviar. Acordamos, mais das vezes, cansados e já angustiados pela certeza de que terminaremos o dia sem conseguir chegar ao fim de tantas obrigações agendadas. Fora o trabalho, temos as vitaminas por tomar, a aula de inglês, a academia, o supermercado. Aprendemos o que é priorizar, mas na vida adulta tudo parece ser urgente e apressado. Tudo é para ontem. E nada pode ficar para amanhã, porque o “amanhã” da agenda já está lotado também, desde hoje.

É aí que me dou conta de como é difícil escolher como passar o dia. Normalmente, ele passa sozinho. Rapidamente, e sem nem notarmos, o sol se foi e a noite caiu. Chegamos no trabalho no comecinho do dia, e sem folga alguma, perdido entre papéis e planilhas, não olhamos sequer uma vez pela janela e perdemos o fenômeno do dia que passa lá fora, até que saímos, e vemos a lua. O dia se foi, projetos concluídos, emails enviados, contratos fechados, aulas dadas. Mas, e daí? O que foi mesmo que fiz por mim hoje? Nada, ou quase nada. O meu dia foi para os outros, pelos outros.

Ë fácil de se convencer de que ele nos foi útil também. Basta pensar que o trabalho enobrece, que o salário me ajuda a contruir uma vida estável, um lar, mordomias. Mas, quantas coisas deixamos de lado por não nos permitirmos olhar pela janela? E se tivéssemos tempo para isso, o faríamos? O ser humano é algo complexo, confuso e contraditório. Nunca temos tempo para as coisas do mundo, e quando temos, não fazemos. E porque temos tempo, reclamamos por não ter como preenchê-lo. E agora, que o último dia chegou, não temos tempo para muita coisa, mas temos o tempo certo para fazer tudo?

Temos, enfim, o poder de escolher o que desejamos fazer, dentre aquelas tantas coisas deixadas para um outro dia. Temos tanto a pensar, que acabamos por não saber o que, de fato, gostaríamos de fazer, ver, sentir hoje. O dia está quase acabando, e eu continuo aqui, pensando em como eu poderia passá-lo. Está quase chegando a hora de ir buscar a roupa na lavanderia, e eu ainda não decidi nada. E quando eu estiver voltando, vou ter que passar uns emails. Talvez depois eu decida algo. Ah, não dá. Tenho que ligar para resolver o problema do projeto. Quem sabe depois, então?

E foi aí que o meu último dia na Terra acabou e eu sequer tinha olhado pela janela.

23 agosto 2006

O que é a vida?




O que é a vida? Um conjunto de fatos, sensações, cores, cheiros e mundos vividos por um ser humano que respira, pensa, vê, age e sente? Ou uma oportunidade para conhecer, aprender, sentir emoções? Em todo caso, é um dom que nos é maravilhosamente dado, dura pouco e merece ser valorizado.

Por isso, é preciso estar atento ao presente da vida, ter a atenção voltada ao hoje, às atitudes, ações, desejos do agora, sem buscar a volta às origens, o passado, o que ficou para trás. A volta representa um procedimento ilusório, uma tentativa de resgate, a recuperação do que ficou em algum lugar onde não estamos mais: uma outra época.

Cada minuto de um dia tem valor. Às vezes, por uma mudança de astral, de clima, menosprezamos um desses minutos que nos foram dados de graça. Deixamos de vivê-lo na sua integralidade, na sua intensidade. E assim, sem querer, deixamos passar o “momento”. De repente, ele até volta a surgir na sua vida, outras vezes, não. Vai-se embora e vai-se para sempre.

O olhar no futuro é fundamental, mas não deve ser estressante. Não deve criar ansiedade, nervosismo, alterações. Se o hoje não é bem vivido, sonhado, sentido, como saber do ar que está por vir? Como prever eventos ou seqüências que dependem do que ainda estamos fazendo? Se não existir o bom de agora, não existirá um maravilhoso depois. A vida deve ser vista sob um olhar sincrônico, observada na sua contemporaneidade, para se entender e viver a evolução.

O importante não é que tal traço ou episódio ou minuto da vida exista, mas que ele exerça (e se saiba reconhecer) uma função precisa. Que ele esteja presente, aqui ou ali, para realizar algo na sua vida. Porque ela é um sistema formado de elementos interdependentes, que não podem ser consideramos isoladamente, nunca. Cada dia, coisa, cheiro, cor e fato exerce uma função vital, tem uma certa tarefa a realizar, representa uma parte insubstituível da totalidade da vida.