Está entalado aqui na garganta. Aqui, ó. Bem aqui. E a gente fica querendo dizer um monte de coisas, impropérios, xingamentos, ou até mesmo umas boas verdades, mas não dá. Pra isso, é preciso descer do pedestal, ligar, ir ao encontro, dar de cara com a criatura. Será que vale a pena?
Sim, acho que vale. Vale a pena descer uns degraus, vale a pena um novo encontro, só pra despejar tudo. Dizer tudo que vier à mente e estiver sobrecarregando o coração. Por isso, escrever mais um email vale, fazer o último telefone vale, olhar no olho vale. Perde-se tempo sim, energia demais, mas por uma boa causa. O nosso bem-estar, a nossa paz de espírito.
Perdem-se uns minutos gritando, extravazando, dizendo (algumas vezes) pela milésima vez a mesma coisa, mas de forma radical e final. Canalizamos o sentimento, aliviando o mal, tirando todo o rancor de dentro, para criar a sensação de vazio, de limpeza, de renovação.
A idéia não é atentar contra ninguém, muito menos contra nós mesmos, mas sim vomitar toda a raiva, a dor, a frustração no exato momento em que as coisas acontecem, evitando que o ódio venha plantar semente e, sobretudo, passando a sensação ruim para o outro, o incômodo, a idéia de que causou o mal a alguém, que feriu, que magoou.
A raiva, na verdade, se bem canalizada, pode criar uma incrível sensação de prazer. Aquela da renovação do espírito, a “lavagem da alma”, como dizem por aí. Então, é a hora do outro, aquele que ouviu, de começar a reagir. Sentir o peso das palavras, crispar-se, sentir a rejeição, a dor daquele a quem feriu.
Cai a ficha, a mensagem é recebida e começa a ser processada, lenta e dolorosamente. Pronto. Você fez sua parte em prol de si mesmo. Aí, depois disso, a leveza toma conta... Até porque a alma da gente, o coração, é um recanto de pura leveza, que deve ser bem tratado e não sofrer pressões, agitações, dores.
E como
uma boa raiva produz um excelente discurso (Ralph Waldo Emerson), o problema, agora, meu caro, é seu!