11 novembro 2008

RAIVA

Está entalado aqui na garganta. Aqui, ó. Bem aqui. E a gente fica querendo dizer um monte de coisas, impropérios, xingamentos, ou até mesmo umas boas verdades, mas não dá. Pra isso, é preciso descer do pedestal, ligar, ir ao encontro, dar de cara com a criatura. Será que vale a pena?

Sim, acho que vale. Vale a pena descer uns degraus, vale a pena um novo encontro, só pra despejar tudo. Dizer tudo que vier à mente e estiver sobrecarregando o coração. Por isso, escrever mais um email vale, fazer o último telefone vale, olhar no olho vale. Perde-se tempo sim, energia demais, mas por uma boa causa. O nosso bem-estar, a nossa paz de espírito.

Perdem-se uns minutos gritando, extravazando, dizendo (algumas vezes) pela milésima vez a mesma coisa, mas de forma radical e final. Canalizamos o sentimento, aliviando o mal, tirando todo o rancor de dentro, para criar a sensação de vazio, de limpeza, de renovação.

A idéia não é atentar contra ninguém, muito menos contra nós mesmos, mas sim vomitar toda a raiva, a dor, a frustração no exato momento em que as coisas acontecem, evitando que o ódio venha plantar semente e, sobretudo, passando a sensação ruim para o outro, o incômodo, a idéia de que causou o mal a alguém, que feriu, que magoou.

A raiva, na verdade, se bem canalizada, pode criar uma incrível sensação de prazer. Aquela da renovação do espírito, a “lavagem da alma”, como dizem por aí. Então, é a hora do outro, aquele que ouviu, de começar a reagir. Sentir o peso das palavras, crispar-se, sentir a rejeição, a dor daquele a quem feriu.

Cai a ficha, a mensagem é recebida e começa a ser processada, lenta e dolorosamente. Pronto. Você fez sua parte em prol de si mesmo. Aí, depois disso, a leveza toma conta... Até porque a alma da gente, o coração, é um recanto de pura leveza, que deve ser bem tratado e não sofrer pressões, agitações, dores.

E como uma boa raiva produz um excelente discurso (Ralph Waldo Emerson), o problema, agora, meu caro, é seu!

09 novembro 2008

Tudo neste mundo tem seu tempo

“Tudo neste mundo tem seu tempo; cada coisa tem sua ocasião.” A frase é simples, é direta, é clara. O grande problema é saber aceitar essa afirmação. É saber ouvir, saber esperar, saber perceber o momento exato de cada coisa. E deixá-la acontecer, fluir.

“Há um tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de construir.”


Somos extremamente imediatistas, e isso, cada dia um pouco mais, por pressão social, por pura pressão psicológica, por egoísmo. Detestamos filas, salas de espera, musiquinha no telefone. Queremos o mundo a nossos pés, aqui e agora. Nada de “espere apenas um minutinho”. Não. Tem que ser pra ontem! – diz a voz do outro lado do fio.


“Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar: tempo de chorar e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de afastar.”


Queremos a permanência das coisas, a eternidade dos objetos, das pessoas. Pelo simples medo de poder “esquecê-los”, guardamos objetos durante anos a fio, sem nem mesmo olhá-los, uma vez sequer. E então, quando os vemos é que, de fato, nos lembramos daquilo que tanto não queríamos esquecer.


Acredito que por puro egoísmo, choramos tanto a perda de alguém, a saudade de quem se foi ou de quem já não vemos mais com a mesma freqüência. Medo de aceitar que estamos sozinhos na aventura, sem aquele apoio, sem aquele sorriso, sem aquela presença. Não queremos sentir a ausência, a dor da perda, o temor da solidão.


“Há tempo de procurar e tempo de perder; tempo de economizar e tempo de desperdiçar; tempo de rasgar e tempo de remendar; tempo de ficar calado e tempo de falar.”


Temos medo de começar a agir, de investir tempo, esforço por medo de falhar. Evitamos (ou adiamos) construir, plantar, curar, viver por achar que não chegaremos ao final, que não concluiremos. Não agimos por medo de falhar e pecamos por falta de ação.


“Há tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz.”


E todos esses “momentos” da vida nos exigem algo, um esforço, um pensamento, ou até uma não-atitude para existirem. Precisamos romper com a inércia de movimento, com o velho hábito de estar ligado na tomada, a 180 km/hora, fazendo, correndo, gritando, mexendo. Precisamos parar. Desligar a tomada. Ouvir o silêncio e então, poder ouvir nossa voz interior dizer o que devemos (ou não) fazer. E será a partir desse instante que poderemos começar a aceitar um pouco mais o tempo de cada coisa.


As citações fazem parte da Bíblia Sagrada, livro de Eclesiastes 3, 1-8.


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